29 de jul. de 2010

Capítulo 2: VIAGEM ASTRAL


Após trocar meus óculos, uma gama de novas sensações e emoções afloraram. A dor que outrora eu sentia lancinante em meu peito diminuiu consideravelmente. Já não era tão difícil assim respirar. Já não era tão mais difícil viver. A partir desse evento a vida foi se tornando mais bela. Em alguns meses, larguei meus vícios, queria estender meu período de vida, e foi mais simples do que imaginara.
Passava o dia a olhar. Ia a lugares que nunca tinha ido, sentava e apenas visualizava. Não importava o local, um banco de metrô ou um parque a céu aberto, a minha pretensão era observar aquilo que não enxergava antes. E como não enxergava. O mundo tinha cores. Milhões delas. Texturas. Nuances. Vida, o mundo era cheio de vida.
Um dia estava sentada a beira de um lago, novamente praticando meu novo hobbie: Observando. Olhando aquelas águas calmas, formando pequenas ondas com o toque carinhoso do vento, percebendo as cores, os tons, as formas, quando bem no centro do lago, onde as águas estavam mais movimentadas, vejo uma forma saindo e voltando para o fundo. Era longo, escamoso, com várias tonalidades de azul e verde que ao toque dos raios de sol brilhavam infinitamente. Assemelhava a um rabo de peixe, um dos grandes.
Foi mais uma imagem a recordar. Deveria ser apenas um peixe subindo a superfície para se alimentar de algum pedaço de pão que os turistas viviam jogando. Voltando para casa, resolvi passar por um canteiro de flores, cheio de margaridas, lavandas, que infestavam o ar com seu cheiro doce, rosas vermelhas e pequenas flores amarelas acompanhando a vegetação de gramíneas. Olhando uma dessas pequeninas, percebi que uma das pétalas estava se soltando, fui apanhá-la para guardar dentro de um livro, logo que abaixei minha mão para tocar na flor, a pétala foge entre meus dedos.
Uma borboleta. Que besteira a minha! Confundir flor e borboleta.
Chegando em casa, sentei-me e retirei meus óculos. Comecei a observá-los. Como as lentes tinham mudado. Estas tinham mais cores ao reflexo da luz, e um pequeno brilho reluzente dos pequenos componentes de vidro. Passando a mão pela armação percebi algo que não existia.
Ao lado da lente esquerda, existia uma minúscula gravação. A olho nu não conseguia ler. Abri uma gaveta cheia de papéis a procura de minha lupa velha. Lá estava ela. Focalizei-a sobre a inscrição, havia duas palavras, pude então ler:
“O PERCEPTOR”

27 de jul. de 2010

O Perceptor - o que é (talvez)

Esse post inicia-se como uma apresentação, já que logo comecei postando um texto de minha autoria. Não sei ao certo qual foi o intuito da criação desse blog, sempre gostei muito de escrever, entretanto, nunca dei muita importância aos meus textos por achá-los sem graça, parecia que sempre faltava algo...
A falta de tarefas nas férias me trouxeram aqui... E espero que eu chegue em algum lugar, talvez na sua casa, dos seus vizinhos, na sua escola ou trabalho.
Se gostarem, comentem... Se não gostarem... Também, isso faz parte de um crescimento tanto para o Blog quanto para mim.
O Perceptor não terá dia marcado para posts e nem conteúdo marcado, pode aparecer uma crônica, uma poesia, uma música, um vídeo, uma série... dia após dia ou uma vez por mês.
Nunca se sabe quando a mente nos presenteia com histórias!
Mas espero que gostem!

Obrigada a todos!

Kamilla Rodrigues

ÓCULOS D'ALMA

Antes, sobretudo, usava óculos escuros. Tampava minha face, desviava o olhar, dizia meias palavras da boca para fora. Lentes grossas, ovaladas, negras como o céu de lua nova, escondendo o brilho por trás dos vidros. Era sempre noite, era sempre frio. Rostos passavam pelas lentes, vidas, ora bem vindas ora não. Calmaria requintada dentro de quartos trancados com as janelas fechadas. Uma nesga de luz proveniente da madeira carcomida deixa-me ver minúsculos pontos de poeira caindo, espiralando, voando pelo ar, brilhando ao reflexo, como estrelas mortas. Quarto vazio, mente vazia, sempre óculos escuros.
O ócio aprisionara-me na impertinente rotina, conseguia enxergar o óbvio, nada mais.
Um dia, ao andar pelas calçadas imundas da cidade, tropeço, caem meus óculos. Em minhas mãos pálidas lentes quebradas. Mais um pensamento de fracasso. Uma breve passagem ao oculista "Quero reparar minhas lentes, por favor." Acendo um cigarro, este tem gosto amargo. "Ora, não prefere lentes novas, senhorita? Estas estão velhas e sujas, já passaram por muitos reparos, talvez não seja possível repará-las totalmente para um bom uso. Aconselho novas lentes, sem desgaste!" libero a fumaça aprisionada em meus pulmões "Certo, volto amanhã".
Passei o dia a divagar, de bar em bar, em meio a quinta xícara de café já frio, percebo olhares, "Garçom, mais um café", "Tens bonitos olhos, senhorita. Seu café..." Ah, como senti falta deles, deles... Minhas lentes escuras...
Logo de manhã vou a loja buscar meus companheiros de vivência. "Aqui está senhorita". Novos, realmente novos, tudo ao meu redor esta renovado, está mais claro. Percebo objetos, situações, intuições de uma forma diferente agora. Meu quarto não é escuro. Não é frio. Embaraço-me com o novo cotidiano. Tenho a mesma armação de óculos, o mesmo metal duro flexionado sobre minha pele, tenho a mesma luz, solar, acima de minha cabeça, mas as lentes, estas são diferentes, trouxeram mudanças íntimas.
Percebi que, ao final, não podemos trocar nossos olhos, nossa armação, entretanto, é necessário mudar o foco, reajustar a incidência, trocar lentes, para mudar o ângulo, o ponto de vista.